quarta-feira, 4 de setembro de 2013

«As notícias têm um impacto muito grande [na carreira de um ator]»



Os atores podem suspirar de alívio e ter rédea solta nas suas vidas. Mas só os bons é que têm passaporte para as noitadas, os namoricos e a vida privada em público. Isto porque, dizem os responsáveis, tal não interfere nas personagens que vão fazer.
Os namoricos abundantes do verão, as zangas quentes entre protagonistas, os vícios e as dependências, problemas privados com conhecimento público e até o mau ambiente e o incumprimento no trabalho podem ou não levar um canal ou uma produtora a prescindir de um ator? Podem ou não levar os responsáveis pela ficção nacional a escolher "à medida" os atores para os papéis?
As respostas não são consensuais: os protagonistas da vida privada mediatizada dizem que sim. Já quem manda ou quem escreve nega. Aliás, por vezes é no confronto entre os escândalos e o desempenho profissional de um mesmo ator que reside o talento de fazer o público esquecer a vida polémica, para o fazer vibrar com a ficção.
"Tudo depende da capacidade do ator", sublinha Gabriela Sobral. Para a atual diretora de produção da SIC, com longa experiência na ficção da TVI, "quando um ator é bom, não se põe isso em questão. É-lhe permitido fazer personagens nos antípodas daquilo que é na vida privada, precisamente porque é um bom ator, faz qualquer coisa", diz. Gabi, como é conhecida no meio, jura que nunca pediu a nenhum ator que refreasse ímpetos de vida privada na vida pública antes de dar corpo a uma nova personagem, até porque "a vida privada é pessoal e não há interferência na vida profissional".
Hugo de Sousa, responsável de Remédio Santo e atualmente a trabalhar em Lua de Papel, TVI, com estreia marcada para setembro, também sustenta que "não há nenhuma correlação. A vida pessoal é deles e nada tem que ver com o que interpretam nas novelas", sublinha este diretor. Considera antes: "A maior correlação que pode existir é quando um ator pode fazer cinco novelas seguidas como bom da fita e pedir para fazer de vilão. Claro que isto não é comum acontecer, mas é possível pedir", diz Sousa, lembrando que "quanto mais diferente for o trabalho de um ator entre papéis, mais entusiasmado fica e não tem de haver mais nada". Exclui assim a influência da realidade na ficção.
Posição distinta tem Rodrigo Menezes. O ator que interpreta Renato Coelho na novela Remédio Santo, atualmente nos episódios finais, garante: "Obviamente que a minha produtora não se mete na minha vida privada, confia plenamente na minha conduta e não opina, o que acontece é que as revistas cor-de-rosa, com as mentiras que escrevem, acabam por influenciar e criam, em certas alturas, alguma neblina sobre os atores", refere, adiantado que a notícia da vida privada nunca o impediu de ter trabalho. "Tenho sido um felizardo. A questão é que foram criadas dúvidas e se a produtora as teve nunca mo disse. Mas eu próprio tive dúvidas se ficaria com contrato de exclusividade, se iria continuar com papéis de protagonismo. Porque as notícias têm impacte muito grande", argumenta, adiantando que a chave está no empregador. "Eles conhecem-me e sabem como sou, mas vejo colegas que já perderam trabalho por isso." Até ao fecho de edição não foi possível obter um comentário de Rita Pereira, envolvida em polémicas com Nani e Cristiano Ronaldo, ou de José Carlos Pereira, que se reabilitou publicamente.
Para os argumentistas, a solução está no público e nas revistas. É essa, por exemplo, a convicção de Patrícia Müller, autora de Rosa Fogo para a SIC. "As revistas fazem questão de separar e anunciam que mostram o lado mais privado dos atores, estes fazem produções e dão entrevistas de vida. As publicações têm muita importância a este nível", refere. António Barreira, responsável por Remédio Santo, da TVI, diz que são os espectadores que separam as águas. "O público sabe distinguir a realidade da ficção. Quando as novelas e as séries surgiram na televisão, a minha avó, por exemplo, achava que os atores morriam mesmo. E quando os via em novas produções pensava que ressuscitavam", recorda. Hoje é diferente. "A vida do ator nada tem que ver com a vida da personagem", diz.
Ambos os argumentistas garantem que nunca lhes foi pedido, nem pediram a nenhum ator para mudar a vida privada para estar apto a encarnar uma personagem. "Nunca me foi pedido nada disso, nem nunca pedi. Era estarmos a imiscuir-nos na vida uns dos outros", diz Barreira. "Era perfeitamente capaz de entregar o papel de uma freira a uma rapariga que tem vindo a aparecer com namorados", exemplifica Patrícia Müller. E insiste em distinguir as coisas porque "tal tem mais que ver com a capacidade interpretativa da atriz do que com o facto de ter muitos namorados ou não". "O que interessa é que o público consiga ver que o ator é bom, tenha ou não a personagem que ver com o privado", sustenta.
E as personagens, são escolhidas à medida da fama que o ator vai tendo? Rodrigo Menezes diz que não. "Foram-me sempre confiando os papéis que eles consideravam e sempre diferentes", acredita. Para Patrícia Müller "a ficção não pode imitar a vida real de um ator" até porque os intérpretes portugueses são - no seu entender - "pessoas cada vez mais conscientes e cada vez mais profissionais, não vejo ninguém que seja um bad boy, que seja arruaceiro, que bata em colegas, que agrida jornalistas ou destrua cenários", diz. "Há, quando muito, pessoas que têm problemas. Os espectadores são fãs de pessoas que superam doenças e fazem o bem, preferem o lado positivo das coisas. Ninguém se vicia nas desgraças", remata.
Fonte Diario de Noticias 2012

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